quinta-feira, 10 de março de 2011

As fotos

Melancolia. Era só o que ela podia sentir naquele momento, um sentimento de perda, uma dor cruciante que parecia esmagar seu peito e sugar até o último resquicio de vida em seu ser.
Dor.
Era isso que significavam aquelas fotos. Perde-lo foi como perder o próprio braço, a própria vida. E nada mais poderia ser feito.
Precisava agora de uma fuga, qualquer coisa que fizesse a realidade parecer menos cruel, menos dolorosa. Drogas, álcool, sono, qualquer coisa.
E então, a salvação veio na forma de uma garrafa de vodka...

Depois de quase uma garrafa inteira de vodka tomada, duas carteiras de cigarro tragadas e as mesmas músicas tocando várias vezes no computador, ela finalmente tomou coragem pra se livrar das fotos, aquelas malditas fotos que a lembravam de uma época em que tudo era sonho.

Abriu a gaveta, e embaixo de um livro, cuidadosamente escondidas estavam as fotos.
Olhou para elas alguns instantes e as lembranças vieram pouco a pouco contruindo um filme em sua mente. Lembrou-se quase com detalhes daquele dia, as sensações, os sorrisos, os cheiros, no fundo não queria livrar-se delas, mas era necessário. Era dolorosamente necessário.

Ela começou picotando cada foto em pedaços bem pequenos e colocando-os numa sacola plástica, mas ainda não era o bastante, era necessário mais que rasgar as fotos para destruir o que elas representavam.

Então, levantou-se meio cambaleante por conta da vodka, pegou a sacola e saiu do quarto, foi andando no escuro até a cozinha onde pegou um pegou um litro de álcool e uma caixa de fósforos e se encaminhou pra rua.

Abriu a porta e começou a andar pela rua escura e quando se distanciou o suficiente de sua casa, ela despejou as fotos despedaçadas no chão, jogou álcool e acendeu a chama.

E ela ficou lá, admirando as chamas consumirem as fotos despedaçadas e - assim esperava ela - queimando com elas aquelas malditas lembranças.

Esperou até que as fotos virassem cinzas e o vento as levasse pra longe.

Mas o problema foi quando ela se deu conta de que as lembranças já estavam incrustadas na sua memória.
"Maldição."- pensou ela - "Quantos socos na cara vou ter que levar até esquecer que você existe?"

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